Um dia, numa conversa com papai sobre as músicas de Umbanda não serem tão divulgadas, como as das outras religiões, chegamos ao nome de Rita, que naquela época era Ribeiro e cantava o que se chamava TechnoMacumba. Comentei:
– Já pensou pai, se um dia a Rita canta um dos seus pontos?
-Será?
– Quem sabe o Brado de Xangô. A gente pode enviar pra ela, quem sabe…
– Seria uma honra.
Alguns anos se passaram, papai conheceu a Rita quando foi gravar seu ponto Clareou que faz parte do CD de Federico Puppi – Marinho de terra firme. E hoje, no show Yamí, Rita Benneditto, cantou Clareou com Federico e Marco Lobo, mamãe foi convidada ao palco e eu nem sei como consegui gravar esse vídeo, de tão nervosa, saudosa e orgulhosa de ter tido Ivo de Carvalho como pai e guia espiritual. Posso dizer com todas as letras – MEU PAI DEIXOU UM LEGADO PARA OS SEGUIDORES DA UMBANDA.
Assim começa o ponto do Exu que comanda a Gira de Descarrego na nossa Tenda e no final pede licença…
“Com licença de Ogum
E de meu Santo Antônio
Ele vem trabalhar”
Não é uma licença para chegar e ficar, mas é para trabalhar e evoluir. Em uma escala hierárquica, Exu é a entidade mais perto dos humanos. Sim, na Umbanda Exu é entidade, teve matéria encarnada, já no Candomblé ele é um Orixá. Quando se diz que é a mais perto dos humanos, talvez explique o fato de sua ligação com Santo Antônio, o “santo casamenteiro” como se apresenta popularmente o santo.
Se, por um lado, Exu é a energia de ligação do mundo dos humanos com as esferas espirituais, é a entidade que realiza a limpeza mais densa, aquela que resolve os problemas “pesados”, a que constrói pontes, estradas, vias de passagens simbólicas amenizando as mazelas da humanidade; por outro, Santo Antônio também está muito ligado aos humanos, um dos santos mais populares da Igreja Católica, quando em vida, um excelente orador, deixou todos os bens materiais para se dedicar aos mais necessitados, não se conformava com a desigualdade que existia, o que pode também ser atribuída a sua ligação com Exu. Ambos com o poder da palavra que encanta, ensina, ajuda, fortalece, ameniza, transfere, abre caminhos, (principalmente os relacionados as questões amorosas). Mas não é só a energia da abertura e do amor que essas duas figuras representam; no campo simbólico, elas cumprem um papel fundamental o de religar os seus adeptos ao seu eu interior, a sua divindade pessoal e a Zambi, Deus, como preferirem. Tanto Exu como Santo Antônio constroem pontes, saídas ligadas à energia amorosa, que carece muito nos dias atuais. Os dois entendem as aflições, os conflitos e as lutas humanas. E, com sua palavra mais próxima, podem aconselhar, afagar, curar. Embora seja uma das entidades mais brincalhona dentro dos Terreiros de Umbanda, Exu é sério no seu trabalho, trabalha em conjunto com outras entidades e com os Orixás, no caso Ogum que o concede a permissão de chegar e prestar a caridade. Exu NÃO é Lucifér, não é Diabo, essa figura do anjo caído não existe nas religiões de matrizes africana, assim como Santo Antônio também não traz essa ligação.
Enquanto a Igreja Católica, no mês de junho, saúda os Santos Antônio, João e Pedro, as casas, as tendas e os terreiros de Umbanda saúdam Exú e Xangô.
Exu e Santo Antônio são: fé, poder, equilíbrio, trabalho, esperança, encanto, caridade, bondade, solidariedade, sensibilidade, reciprocidade e amor.
Laroyê,
Exu, é Mojibá!
Salve Santo Antônio!
Nossa homenagem e festa para Exu será no próximo sábado dia 16 de junho. Venham comer o pãozinho de santo Antônio e pular a fogueira!
Segue o vídeo do ponto cantado pelo seu compositor e nosso dirigente Ivo de Carvalho.
Nosso dirigente, Ivo de Cavalho contando sua trajetória na Umbanda. Lindo vê-lo com tanta energia aos seus 82 anos de idade.
Como não nos sentirmos orgulhosos de tê-lo como pai. Cada palavra um aprendizado, cada ponto uma oração. Entrevista realizada por Alex do Grupo de Estudo Braulio Goffman.
Em junho de 1985 fui agraciado com uma intuição para escrever a letra da cantiga do Caboclo Pena Branca.
Participação especial do Ogã Jorge Coelho
Gostaria de esclarecer que TODOS os pontos de Ivo de Carvalho são registrados. Eles podem ser cantados nos terreiros, nos centos, nas tendas, nos eventos de Umbanda, mas para comercializá-los só com a permissão do autor.
Letra do Ponto
Que lindo brado eu ouvi naquela aldeia Naquela aldeia numa noite de luar Era um caboclo que vinha chegando Com sua flecha, seu bodoque e seu cocar
Que lindo brado eu ouvi naquela aldeia Naquela aldeia numa noite de luar Era um caboclo que vinha chegando Com sua flecha, seu bodoque e seu cocar
Mas ele veio no clarão da lua Iluminado por pai Oxalá Ele é caboclo Ele é guerreiro Ele seu Pena Branca Ele é o rei do Panaiá
No domingo passado, estivemos no 2º Sarau da Umbanda. Nosso Babalorixá, Ivo de Carvalho e o Ogã José Carlos de Oxóssi, receberam uma homenagem pelo conjunto de sua obra, com destaque para o seu ponto, Brado de Xangô que é conhecido por todo Brasil. Gratidão aos organizadores do evento que contou com a presença de Tião Casemiro, Bia Nascimentos e outros.
Foi uma tarde muito agradável, podemos rever e estar amigos e pessoas que divulgam e professam a nossa fé.
O Sarau tem como finalidade resgatar pontos antigos e apresentar as novas composições.