A Chama do Médium


Texto de Sid Soares

Conversei essa semana com uma simpatizante da Umbanda, estava contente em conhecer a religião, sentia que quando pisava no terreiro estava pisando em sua própria casa, mas tinha o receio de não estar pronta para entrar para a corrente e assumir um compromisso mediúnico, embora tivesse muita vontade de servir, e por isso se colocou a disposição para servir a sopa, olhar as crianças, enfim ser útil, pois não queria deixar essa chama de fé que estava nascendo se apagar.

Falamos sobre a espiritualidade e empatia e disse a ela: não se preocupe você já é umbandista! Lembrei de como há uma euforia para “entrar para a corrente e vestir o branco” ou ser umbandista, ser médium, para ser…

Após toda essa animação vemos tão pouco ânimo para estar “no branco” e compreender que mediunidade é sinônimo de trabalho em todos os sentidos e vai muito além da “roupa branca” ou do “pegar santo”.

A mediunidade começa quando aprendemos a enxergar que a Umbanda se faz dentro das nossas casas, buscando a solução para as nossas mazelas familiares, nossos medos e demônios. Começa quando aprendemos a lidar com os conflitos emocionais que nos cercam no dia a dia. Afinal, como ser útil aos conflitos emocionais do outro quando ainda temos tantos a resolver debaixo de nosso teto?

Mediunidade é adubar todos os dias a sementeira do bem, e não ter receio de tomar nas mãos o cacumbú para limpar dos campos da mente e coração as ervas daninhas da maledicência que muitas vezes adubamos com pequenas palavras, com atitudes equivocadas. Afinal, como cantar aquele ponto de louvação a Oxalá se a minha língua tropeça nos erros do meu irmão?

Mediunidade é ser útil a si mesmo e a quem mais os fios dourados da caridade trouxer ao nosso encontro, e ser médium de Umbanda implica ainda em ser mais caridoso com o diferente, aceitar a própria diferença e enxergar isso no outro, vendo no outro a minha extensão. Como pedir respeito dos que criticam a minha crença, quando não acolho com respeito e compaixão aquele que divide comigo os campos de trabalho?

Ser médium no terreiro é o último estágio, onde não podemos esquecer que a obrigação maior não é atravessar etapas, mas ser ponte e caminho para que os outros passem, é saber que maior que nosso ego é a dor do outro e servir ao outro. Quando esquecemos das vassouras, dos copos e pratos que foram usados para servir a sopa, das dores que chegam sem aviso a casa de fé, deixamos de ser médiuns e passamos a ser chama vazia de nós mesmos e daquilo que achávamos que um dia acreditamos.

A chama de todo médium umbandista é a certeza de que a Umbanda deve caminhar conosco em todos os lugares, em nossa fala e em nossa vida, na nossa casa e no terreiro, afinal ela é a “manifestação do espírito para a caridade” e o médium é antes de tudo um espírito. Acender o gongá da fé sem essa certeza é ser candeia que não alumia, é ser fogo que não aquece.

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