Sid Soares
14 de junho às 06:57 · Rio de Janeiro ·
O Ferro Velho das Almas
Havia um ferreiro que, após uma vida de excessos, se converteu a uma vida de piedade. Durante muitos anos trabalhou com afinco, praticou a caridade, mas, apesar das suas orações e súplicas a Deus e aos Orixás, por meio da Umbanda, nada parecia dar certo na sua vida. Muito pelo contrário. Seus problemas e dificuldades aumentavam.
Uma bela tarde, um amigo que o visitara, e que se compadecia de seus esforços, comentou:
– É realmente estranho que, justamente depois que você resolveu se tornar um homem de oração e a buscar a evolução, sua vida começou a piorar. Não desejo enfraquecer sua fé, mas apesar de toda sua devoção a Deus e aos guias, nada tem melhorado.
O ferreiro não respondeu imediatamente. Ele já havia pensado nisso muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida.
Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta, encontrou uma explicação. Disse:
– Eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado e preciso transformá-lo em espadas. Como isto é feito? Primeiro, aqueço a chapa de aço até que ela fique vermelha. Em seguida, tomo um martelo pesado e aplico golpes até que a peça adquira a forma desejada. Logo, ela é mergulhada num balde de água fria e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor. Tenho que repetir esse processo até conseguir a espada perfeita. Em muitas ocasiões uma vez apenas não é suficiente.
O ferreiro deu uma longa pausa, pensou e continuou.
– Às vezes, o aço que chega até minhas mãos não consegue aguentar esse tratamento. O calor, as marteladas e a água fria terminam por enchê-lo de rachaduras. E eu sei que jamais se transformará numa boa lâmina de espada. Então, eu simplesmente o coloco num monte de ferro-velho que está na entrada de minha ferraria.
Mais uma pausa e o ferreiro concluiu:
– Sei que Deus está me colocando no fogo das dificuldades. Tenho aceitado as “marteladas” que a vida me dá, e às vezes sinto-me tão frio e insensível como a água que faz sofrer o aço. Mas a única coisa que peço é: “Meu Pai, não desista, até que consiga tomar a forma que o Senhor espera de mim. Tente da maneira que achar melhor, pelo tempo que quiser, mas jamais me coloque no monte de ferro-velho das almas.”
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O que a vida faz conosco é nos forjar, nos moldar através das provas, das dores para que alcancemos a disciplina, o sofrimento, porém é opcional. Muitos passam várias dificuldades, mas escolhem sorrir e seguir apesar de tudo. Outros sofrem e fazem desse sofrimento e da lamentação um troféu para ostentar suas mágoas.
Não creio que a vida deva ser uma sucessão de dores, ou que devemos ser resignados e passivos a tudo, isso seria força uma santidade da qual ainda não se está pronto. Isso é um processo.
Mas é preciso ter paciência e fé sempre, por o pé no caminho e ir à busca do que se quer. Ogum será o primeiro a abrir nossa estrada. Que seja ele o ferreiro a nos forjar, mas antes que estejamos prontos para esse processo!
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