Gostaria de compartilhar um texto publicado na Revista Sadhana nº 23. Um texto escrito por Ramiro Calle, que nos ajudará a pensar em nossas ações diárias. Devemos meditar enquanto agimos, pois assim também evoluímos.
Segue o texto.
A ação consciente e certeira
Texto de Ramiro Calle
Tradução de Sylvia Helena Arcuri
Ninguém pode deixar de realizar. A vida é um movimento e, portanto, ação. Inclusive o deter-se e não fazer é uma forma de atuar. Nossas funções vitais estão, constantemente, fazendo o seu trabalho. Todos estamos sujeitos a uma ação. Ainda assim, a meditação consiste em fazer para deixar de fazer e desconectar-se. Um eremita também tem que limpar sua cabana, buscar seu alimento, relacionar-se com outro eremita. A ação e o contato portanto, são inevitáveis. Porém a ação não tem que ser necessariamente agitação, nem sairmos de nosso centro, nem estarmos presos ao nosso egocentrismo e nem desviarmos do nosso trabalho de desenvolvimento próprio.
Nos dias atuais, surge todo tipo de pseudo-iogas ou sucessores de ioga, “iogas desnaturalizados”, e que convertem a sua prática em fitness ou a um neurastênico culto ao corpo. O grande paradoxo: a ioga, cujas muitas das técnicas são para outorgar-lhes calma para mente e equilíbrio para o sistema nervoso, se transformou, por alguns, em uma máquina de competição, estresse e contorcionismo.
Existe uma ioga tradicional que estes pseudos-iogas desconhecem: o karma-ioga ou a ioga da ação consciente que é mais desinteressada e menos egocêntrica. Esta prática de ioga é verdadeira nos seus ensinamentos e práticas em si, sobretudo, serve às pessoas que vivemos em uma sociedade comum e que se movem dentro de âmbitos familiares, afetivos, sociais e profissionais.
O karma-ioga é a ioga da ação mais:
- Consciente;
- Lúcida;
- Certeira;
- Altruísta.
Os seus princípios ou requisitos básicos são:
1- Faça o melhor que possa em todo o momento e circunstâncias;
2- Não fique preso aos resultados da ação e nem se deixe alienar pela ação em si, porque você é mais importante que a ação;
3- Você não pode se sentir agitado pela ação, e como dizia Vivekananda, você pode conseguir, durante o momento de atuação, que nenhuma onda de inquietação alcance seu cérebro;
4- Faça tudo por amor e não espere resultados;
5- Caso você tenha feito o melhor que pôde, os resultados aparecerão. Não se torne um obsessivo e nem fique preso as mesmas ações;
6- Execute a ação da melhor forma possível, tendo claro os fins e os meios;
7- Trate de manter a cabeça lúcida e serena durante a ação e, seguindo as palavras de Kipling, “mantenha a cabeça tranqüila quando todos que estão ao seu redor, estão com a cabeça confundida e/ou perdida”;
8- Valorize o próprio processo e não somente a sua finalidade. Considere que cada passo durante o caminho já é uma meta e que a ladeira da montanha já é o topo, ou seja, o processo em si mesmo é a conquista;
9- Não deixe de estar em aprendizado constante;
10- Trate de ser você mesmo, e cada vez que perder o seu centro, tente recuperá-lo;
11- Não coloque o seu ego no meio disso tudo, mas coloque a prudência e o entendimento correto;
12- Assuma o fracasso como parte do aprendizado e como um “despertador” para retomar o caminho da consciência.
Se cometer algum erro, corrige; se torna a errar; torne a corrigi-lo. Como reza no adágio tântrico: “O mesmo solo que pode derrubar é o mesmo que serve de apoio para levantar-se”.
Retomando as palavras de Vivekananda:
“Trabalhe como se fosse nessa terra, um viajante. Atue incessantemente, mas não fique preso, pois a prisão é terrível. Este mundo não é nossa morada, é apenas um dos cenários pelos quais passamos.”
A ação será mais certeira quanto mais, em nossa mente, prevaleçam fatores como equanimidade, lucidez, sossego, visão clara e atenção consciente, fatores que vão se desenvolvendo quando mais se treina a meditação.
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